Poucas vezes atentamos para o detalhe da fidelidade de Jesus no cumprimento da missão que recebera do Pai. A curta trajetória de Sua vida - criado numa família tradicionalmente judaica até os trinta anos de idade, mais os três anos de ministério - culminou com Sua meta desde o princípio: a cruz. Ele sabia e dizia para os discípulos que Seu destino seria a cruz.
“Pois as Escrituras Sagradas dizem: ‘Ele foi tratado como se fosse um criminoso.’ Eu afirmo a vocês que isso precisa acontecer comigo, pois o que está escrito a meu respeito tem de acontecer.” Lucas 22.37
“O Filho do Homem precisa ser entregue aos pecadores, precisa ser crucificado e precisa ressuscitar no terceiro dia.” Lucas 24.7
Na frase ESTÁ CONSUMADO, dita do alto da cruz, da agonia indescritível, Jesus deixou o maior exemplo de abnegação e de dever cumprido. Ele é O Mártir dos mártires. E o que o diferencia de todos os demais, é que sempre soube que morreria na cruz. Da forma mais cruel e desumana. Tudo estava previamente combinado; prescrito.
A cruz, primeira grande obra de Jesus, tem efeito na vida de todos os que crêem. Por tratar-se não apenas de uma cruz substitutiva (“Ele morreu em meu lugar”), mas inclusiva (“Eu morri juntamente com Ele na cruz”). Trata-se de um dos maiores mistérios do Novo Testamento (confira os textos bíblicos de João 12.24, 32-33; 2 Coríntios 5.14-15; Romanos 6.3-8; Gálatas 2.19-20; 6.14; Colossenses 2.20; 3.3).
Dada a magnitude da primeira obra de Jesus, então qual seria a segunda maior obra? Perguntei isso a um grupo de amigos e obtive as mais variadas respostas. Aliás, o teste também vale para você. Em sua opinião, qual foi a segunda maior obra de Jesus? Para muitos, foi a ressurreição de Lázaro; para outros, a transformação da água em vinho; a ressurreição da filha de Jairo; a visão do cego Bartimeu; a transfiguração; a multiplicação dos pães etc. As obras de Jesus foram grandiosas e João, o apóstolo do amor, disse que não haveria livros suficientes no mundo para registrar todos os milagres que Jesus realizou (João 21.25). Mas sua segunda grande obra foi mais significativa do que os milagres aqui relacionados.
O capítulo 17 de João mostra a oração de Jesus por si mesmo, pelos apóstolos e pelos futuros cristãos do mundo. Não é comum encontrar orações de Jesus nos escritos bíblicos; até porque, a maior parte do tempo Jesus orava só. Mas o registro de João quebra a regra e abre o momento íntimo de Jesus com Seu Pai. Por que o Espírito Santo inspirou João a registrar esta oração na íntegra? Exatamente por tratar-se de um momento estratégico. Jesus estava deixando este mundo e indo para o Pai. E o foco de sua oração não está na gratidão por tantos sinais e prodígios realizados (“Então, Jesus lhe disse: Se, porventura, não virdes sinais e prodígios, de modo nenhum crereis.” João 4.48). O assunto principal da oração está nos doze discípulos. Fica fácil identificar Jesus prestando contas ao Pai de seu trabalho de discipulado. Ele dedicara os três anos de seu ministério em preparar aqueles homens para sucedê-lo na missão de salvar as pessoas dos poderes do diabo.
O discipulado dos doze foi a segunda maior obra de Jesus na terra. Ele ensinou seus discípulos a amarem a Deus e as pessoas. Mostrou pelo exemplo que a grandeza de uma pessoa está no temor a Deus, no serviço em amor, na humildade e na santidade. Ensinou seus discípulos a resistir ao diabo, a não se contaminar com o mundo, a guardar a Palavra e a vida de oração, e cumprir cabalmente a missão de pregar o evangelho e a fazer novos discípulos (Mateus 28.19-20). Os versos 6 e 7 de João 17 comprovam que sua grande missão, além da cruz, foi cuidar de sua ‘célula’: “Eu mostrei quem tu és para aqueles que tiraste do mundo e me deste. Eles eram teus, e tu os deste para mim. Eles têm obedecido à tua mensagem e agora sabem que tudo o que me tens dado vem de ti.” (NTLH)
Considerando que a partida de Jesus estava próxima, o assunto predominante de sua oração foi PESSOAS; GENTE. Aqueles que já criam nEle e aqueles que ainda haveriam de crer. Que coisa maravilhosa! Que inspiração e que referência para todos aqueles que desejam engajar-se no cristianismo. Que legado espiritual. A alegria de Jesus estava no progresso de seus discípulos. Ele cria que aqueles homens dariam continuidade à missão. E foi exatamente isso que seus discípulos fizeram.
Mas isso só foi possível por causa daquele estilo de vida em comunhão que Jesus desenvolveu com os doze. É impossível à mente humana reproduzir os benefícios daquela convivência íntima com Jesus durante os três anos de Seu ministério. João registrou ainda o tipo de compromisso que Jesus teve com aqueles homens: “Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim.” João 13.1
A maior prova de que o discipulado de Jesus foi eficaz está no nível de entrega que seus discípulos tiveram pela causa.
Tiago, o maior, decapitado em Jerusalém por ordem de Herodes Agripa.
Tiago, o menor, morreu como mártir.
Pedro, crucificado de cabeça para baixo em Roma por ordem de Nero.
Tomé, morreu como mártir por ordem do rei de Malipua – cidade indiana de Madras.
André, martirizado na Acaia, amarrado em forma de x numa cruz.
Natanael, esfolado vivo e crucificado de cabeça para baixo.
Filipe, morreu como mártir em Hierápolis.
Judas Tadeu, morreu como mártir na Pérsia.
Mateus, morreu como mártir na Etiópia.
Matias, morreu como mártir na Etiópia.
Paulo, decapitado em Roma por ordem de Nero.
João, morte natural com cem anos em Éfeso.
Agora é a nossa vez. A vez de todos os cristãos. Tomarmos a nossa cruz (Lucas 14.27) e fazermos discípulos (Provérbios 27.23; Mateus 28.19). Afinal de contas, Jesus garantiu que faríamos as mesmas obras que Ele fez (João 14.12); e outras maiores.
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